Em qualquer empresa – seja qual for o seu sector de atividade, forma ou dimensão – a obtenção de lucros é essencial para assegurar a sua viabilidade.
Com as vendas de determinado produto ou serviço (proveitos), as empresas asseguram o cumprimento das suas obrigações (custos), ou seja, o pagamento das matérias-primas e de serviços adquiridos a fornecedores, de salários a colaboradores, de custos de financiamento, bem como de impostos e contribuições ao Estado.
É expectável que da diferença entre esses proveitos e custos resulte um saldo positivo – o lucro.
Para que serve o lucro?
A obtenção de lucros pelas empresas é fundamental para (i) reforçar a capacidade de investimento das empresas no futuro, permitindo, por exemplo, continuar a melhorar a qualidade de produtos e serviços, (ii) criar reservas que lhes permitam enfrentar períodos adversos, mas também para (iii) remunerar os seus acionistas, ou seja, partilhar parte dos lucros obtidos com aqueles que acreditaram no potencial da empresa e investiram nela.
Porque não se deve olhar apenas para o lucro?
O lucro de dezenas ou centenas de milhões de euros pode, por si só, impressionar pela sua magnitude mas não é suficientemente revelador do desempenho de uma empresa nem permite a sua comparação com outras empresas. Sempre que analisamos o desempenho de uma empresa é fundamental relacionar o valor do lucro com a dimensão dessa empresa, ou seja, apurar o retorno que esta apresenta face ao capital que foi necessário investir – a rendibilidade.
Exemplo: Um investidor pretende investir 1.000 euros no capital de uma empresa que lhe dê algum rendimento. Para tal, tem duas opções de risco idêntico: a empresa GRANDEX que apresentou recentemente um lucro de 10 milhões de euros e a empresa PMEQ que apresentou um lucro de somente 200 mil euros. Num primeiro momento, está convencido a investir na empresa GRANDEX, pois o valor do seu lucro é superior mas, após alguma pesquisa, percebe que estava enganado. Apesar de ter um resultado inferior (200 mil euros), a empresa PMEQ também tem um capital menor (2 milhões de euros), o que significa que a sua rendibilidade é de 10% (200 mil/2 milhões), um valor superior à empresa GRANDEX, que apresenta um resultado de 10 milhões de euros mas tem um capital de 500 milhões, ou seja, uma rendibilidade de apenas 2% (10 milhões/500 milhões). Quer isto dizer que por cada euro investido no capital da PMEQ, a empresa gerou um retorno de 0,10 euros, enquanto na empresa GRANDEX, por cada euro investido, o ganho foi de apenas 0,02 euros.
Porque é importante ter uma adequada rendibilidade?
As empresas que, para idêntico nível de risco, apresentam rendibilidades superiores conseguirão mais facilmente convencer os atuais acionistas a reforçarem os seus investimentos ou atrair novos investidores.
De forma oposta, as empresas que apresentem rendibilidades inferiores terão maiores dificuldades em atrair novos investimentos, uma vez que, os investidores poderão preferir outras alternativas que assegurem um maior retorno.
E no sector bancário?
Sendo um sector de capital intensivo, com entidades de grande dimensão, os resultados do sector bancário (sejam lucros ou prejuízos) tendem a ser significativos (em termos absolutos) e amplamente mencionados.
Note-se que, para além da importância de obter adequadas rendibilidades que permitam reforçar a capacidade de investimento e inovação, o sector bancário necessita imperativamente de garantir o reembolso dos depositantes, que confiaram aos bancos as suas poupanças, o que implica assegurar níveis mínimos de capital, exigidos pelas Autoridades de Supervisão, e só então remunerar os seus acionistas.
Porque é que o sector bancário tem requisitos mínimos de capital?
A principal função dos bancos é a captação de recursos, através dos depósitos ou poupanças dos seus clientes, e a transformação e posterior disponibilização desses recursos, através de concessão de crédito, crucial para o crescimento e desenvolvimento da economia.
Como os bancos têm que garantir o reembolso dos depósitos, a sua principal fonte de financiamento, a atividade do sector bancário é alvo de um enquadramento regulatório extenso e rigoroso que exige, entre outros, que, por cada euro de crédito concedido, se reserve uma parte do capital, de modo a fazer face a eventuais perdas inesperadas.
Deste modo, para manter o crescimento da atividade de concessão de crédito, o sector bancário necessita de (i) captar capital de investidores ou de (ii) gerar organicamente esse capital, através da obtenção de lucros.
Quem beneficia com a rendibilidade do sector bancário?
A existência de um sector bancário com uma adequada rendibilidade é vantajosa para todos:
- Os bancos – atraem mais investimentos, reforçam a sua solidez para enfrentar períodos adversos, investem e inovam, expandem o seu capital e, em simultâneo, a sua capacidade de apoio à economia e às famílias;
- As empresas e os cidadãos – são apoiados na aquisição de bens e serviços, na realização de investimentos, beneficiam de novos e melhores produtos e serviços, aumentam o seu bem-estar (cidadãos) e a sua competitividade interna e externa (empresas);
- O Estado – beneficia do apoio na realização de investimentos públicos e aumenta as suas receitas (sob a forma de impostos e contribuições);
- Os investidores – sejam eles cidadãos, empresas ou Estados, obtêm uma remuneração pelo capital investido e com essa remuneração podem reinvestir na economia;
- A sociedade – beneficia de um sector com capacidade para continuar a contribuir para o desenvolvimento da economia, enfrentar os desafios gerados pelas transições climática e digital e apoiar a inclusão financeira.